AVAV [ 20 ] * lua cheia *
APRESENTAÇÃO: 19/12/2013 | 22h40 às 22h50
[ local: Epicentro Cultural ] > Rua Paulistânia, 66. Sumarezinho — próximo ao metro Vila Madalena — SÃO PAULO ]

artista: Mariana Coggiola
iluminação / João Noronha

“O tango é um pensamento triste que se pode dançar”
-Discépolo

Meditango busca evocar um paralelo evidente entre as essências do tango e do pole. De título homônimo à canção de Piazzolla, a ação adiciona ao conceito híbrido da obra o movimento em tensão vertical e a alusão à fantasmata de Domenico da Piacenza.

A meditação encontra-se entre dois polos: a concentração e a contemplação.
O tango é brusco, categórico e grave, carregado de tensão e memória. O pole dance é, fundamentalmente, uma dança de contração muscular composta por posições estáticas e giros.

Domenico enumera seis elementos fundamentais da arte da dança: métrica, memória, comportamento, percurso, aparência e fantasmata. O filósofo Agamben define a fanstamata de Domenico como uma parada súbita entre dois movimentos, contraindo virtualmente em sua própria tensão interna a medida e a memória da série coreográfica inteira.

A dança é, para Domenico, uma operação essencialmente conduzida pela memória, uma composição de fantasmas numa série temporal e espacialmente ordenada. O lugar da dança, segundo Agamben, não é no corpo e em seu movimento, mas na imagem como pausa não imóvel, junção de memória e energia dinâmica. A memória, nesse sentido, não é possível sem uma imagem
(fantasma), que é uma representação da sensação ou do pensamento. Agamben ressalta que a imagem mnemônica (auxiliar da memória) é sempre carregada de uma energia capaz de mover e perturbar o corpo.

Em se tratando do corpo do bailarino, uma temporalidade provisória produz uma outra
temporalidade provisória. Ele se constitui segundo os elementos que os faz e desfaz, os transformando sem cessar. Trata-se de um conjunto de elementos heterogêneos que se reencontram e se interferem, com o corpo e pelo corpo. Detidos no instante, a parada súbita entre dois movimentos – conforme a definição fantasmata de Agamben – enuncia sempre um acontecimento por vir, portanto ausente. Porque não foi visto, tornou-se imaginação (fantasma), espaço de imagem que abre a passagem do dentro ao fora.

“Isto significa que a essência da dança não é mais o movimento – mas o tempo”.
-Agamben

(trechos sobre Fantasmata retirados da Revista Passagens e redigidos por Rosa Cristina Primo Gadelha, doutora em Sociologia pela UFC)